Projeto Guardiões da Infância, da Polícia Federal, recebeu 8 revelações espontâneas de vítimas de abuso e registrou 24 notícias-crime
Delegada da Polícia Federal há 11 anos, Rafaella Parca atua com crimes relacionados ao abuso sexual desde 2018. Nesses 7 anos, ela coordenou operações de combate a esse tipo de crime. Atualmente na Coordenadoria de Repressão a Crimes Cibernéticos relacionados ao Abuso Sexual Infanto Juvenil da PF, ela lidera o projeto Guardiões da Infância, que leva policiais às escolas, não para punir, mas para prevenir.
Em agosto de 2024, policiais federais iniciaram as primeiras apresentações em escolas e, em 9 meses, o projeto já realizou 205 palestras em 13 unidades da federação, 107 em estabelecimentos privados e 98 em instituições públicas, e o conteúdo preventivo foi mostrado para quase 11 mil pessoas, sendo 7750 adolescentes de 12 a 17 anos, alunos dos últimos anos do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio. Pais, professores e outros profissionais que atuam com crianças e adolescentes também receberam os conteúdos.
O projeto conta com a parceria da SaferNet, que, há um ano, assinou um memorando de entendimento com a PF e capacita policiais federais com o mesmo conteúdo da formação para professores da Disciplina de Cidadania Digital, criada pela SaferNet e o Governo do Reino Unido.
Desde que foi firmado o acordo, 64 policiais federais que fizeram os cursos “Segurança e Cidadania Digital em Sala de Aula”, da Disciplina de Cidadania Digital, ou “Educando para Boas Escolhas Online”, ambos disponíveis na plataforma Avamec, do Ministério da Educação, concluíram a capacitação da SaferNet. A ONG ministrou ainda uma capacitação presencial em Brasília para 30 policiais federais de todas as unidades da federação
O conteúdo apresentado por integrantes de diversos quadros da PF, aliado à confiança que a população, inclusive a jovem, tem na Polícia Federal, resultaram também em oito revelações espontâneas de adolescentes que contaram aos policiais durante a palestra que foram vítimas de abuso sexual e mais 24 casos em que os jovens apresentaram notícias-crime (denúncias) relacionadas ao tema. Ou seja, o trabalho de prevenção acaba refletindo também na repressão aos crimes de abuso sexual infantil online e offline.
Material usado pela PF surge de capacitação
A partir da capacitação com a SaferNet, a Polícia Federal padronizou um material próprio com cinco módulos inspirados nos conteúdos absorvidos. Os módulos são sobre bem-estar e saúde mental, respeito e empatia nas redes, desinformação, relações seguras online, que preparam para o quinto módulo, “em que a gente aborda um pouco mais sobre essa parte do abuso sexual propriamente dito”, explicou a delegada.
Os policiais dão as aulas uniformizados, o que aumenta o interesse e o respeito dos alunos. Durante as aulas iniciais, os policiais envolvidos no projeto perceberam a necessidade também de capacitar outros órgãos que integram a rede de proteção, como os conselheiros tutelares.
Inicialmente, a participação dos policiais nas palestras era voluntária. Hoje foi criada uma norma interna que considera a participação nas palestras uma atividade de prevenção e o tempo dedicado à atividade é contado como hora trabalhada.
Até o momento, a PF já realizou palestras em 13 estados. As unidades da federação que mais receberam o conteúdo ministrado por policiais federais foram São Paulo, Paraná e Minas Gerais.
“O projeto atingiu um objetivo que a gente nem esperava, que é o de fazer bem para saúde mental dos policiais. O policial que trabalha com repressão a esses crimes vê imagens de abuso sexual infantil todos os dias e é um trabalho muito pesado lidar com esse tipo de material. pois é um crime horrível e, a depender do caso, os policiais ficam traumatizados, ainda que inconscientemente, né? Quando o colega sai e vai para um ambiente escolar e é bem recebido e ele vai falar, as pessoas adoram e são muito legais os retornos que recebemos. Os colegas ficam super bem de saúde mental mesmo. Isso foi uma coisa que a gente não mirou, mas acabou atingindo”, conta a delegada Rafaella.
A delegada conta que muitos policiais se esmeram na preparação para as palestras e preparam lembrancinhas, como garrafas, pins e certificados para os estudantes participantes.
“Há anos, a SaferNet era uma parceira da Polícia Federal no enfrentamento aos crimes contra os direitos humanos na Internet. Faltava uma parceria na área de prevenção desses crimes. E, em um ano, essa nova parceria alcançou excelentes resultados. Quanto mais crianças e adolescentes tiverem conhecimento sobre o uso seguro e consciente de tecnologias, menos riscos correrão”, afirma o presidente da SaferNet, Thiago Tavares
O presidente da ONG destaca também a criação, em 2023, da Diretoria de Crimes Cibernéticos na Polícia Federal “uma demanda antiga, inclusive da sociedade civil, para fortalecer o sistema de justiça criminal e que já no primeiro ano se provou ser um verdadeiro divisor de águas”, afirmou Tavares em sua manifestação durante o Encontro Nacional de Enfrentamento da Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, que é realizado esta semana em Brasília/DF.
Em 2023 foram realizadas 1074 operações de combate ao abuso sexual de crianças e adolescentes contra 502 em 2022, um aumento de 114%.
“Trata-se de um projeto construído a partir de um sentimento de que deveríamos atuar com mais intensidade na modalidade preventiva ao abuso sexual infanto-juvenil. Ao apresentar a estrutura da Diretoria de Crimes Cibernéticos da Polícia Federal à SaferNet, nasceu a ideia de juntarmos as duas instituições para construir o Guardiões da Infância, que está em franco desenvolvimento em todo o país, com um número cada vez maior de pais, alunos e professores beneficiados. Em suma, tornou-se motivo de grande orgulho e satisfação para todos os envolvidos”, afirmou o delegado Otávio Margonari Russo, Diretor de Combate a Crimes Cibernéticos da Polícia Federal.
A convite da SaferNet, Rafaella tem participado de eventos nacionais, a exemplo do Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet e da 17a edição do Dia da Internet Segura, ambos em São Paulo, para apresentar o projeto “guardiões da infância” e debater os resultados com especialistas.
Confira a participação da delegada no Dia da Internet Segura 2024
Em 3 anos, a Disciplina de Cidadania Digital, da SaferNet e do Governo do Reino Unido, já alcançou quase 77 mil estudantes em todo o Brasil, espalhados por 565 escolas, de 355 municípios. O conteúdo foi ministrado por 644 professores até agora, mas mais de 10 mil se capacitaram.
Sobre a SaferNet
A Safernet completará 20 anos de existência em dezembro deste ano. Durante sua trajetória, a ONG brasileira tornou-se referência na promoção dos direitos humanos na internet. Com uma abordagem multissetorial, atua no enfrentamento aos crimes cibernéticos contra os Direitos Humanos, no acolhimento de vítimas de violência online e em programas de educação, prevenção e conscientização.
A Safernet mantém um Canal Nacional de Denúncias, conveniado ao Ministério Público Federal e o Canal de Ajuda, o Helpline, para vítimas de violência e outros problemas online. A Safernet promove o uso seguro da internet com projetos educacionais como a Disciplina de Cidadania Digital.
Texto publicado em 03/06/2025
Mais informações:
Marcelo Oliveira
Assessor de Imprensa
SaferNet Brasil
11-98100-9521