Milhões de estudantes brasileiros que almejam cursar uma faculdade participam, neste domingo (10), do segundo dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2024. Criada em 1998 para avaliar o desempenho escolar de quem concluiu a educação básica, a prova se tornou a principal porta de entrada para o ensino superior. Em todo o país, instituições de ensino públicas e privadas utilizam os resultados individuais do Enem para selecionar novos alunos.
Em Brasília, os primeiros candidatos começaram a chegar cedo aos locais de prova. Tentando evitar contratempos ou surpresas, houve quem tenha chegado antes das 11 horas – uma hora antes da abertura oficial dos portões; 90 minutos antes do início da prova.
Documentos de identificação, canetas esferográficas pretas e, na maioria dos casos, um pequeno lanche em mãos, muitos não escondiam a ansiedade natural de quem sabe estar dando um passo importante para seu futuro.
Daniel de Sousa conversa com Agência Brasil antes do fechamento dos portões. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil
É o caso de Daniel de Sousa Silva, 27 anos. Trabalhador autônomo e ex-aluno de uma escola pública, Daniel e sua esposa saíram de casa, em Recanto das Emas (DF), por volta das 8 horas. De ônibus, levaram quase duas horas para chegar ao local onde estão fazendo a prova, na Asa Norte, bairro da capital federal a cerca de 35 quilômetros de distância.
“Dependemos do transporte público. Por isso, saímos cedo para evitar imprevistos”, contou Daniel, que está prestando o Enem pela primeira vez desde que concluiu o Ensino Médio, em 2022. “Estudamos sozinhos, em casa. Eu assisti a videoaulas, usei o material que tinha em casa e estou contando com o que aprendi no Ensino Médio”, acrescentou, dizendo acreditar em um desempenho que lhe garanta a nota necessária para cursar Agronomia ou Tecnologia da Informação (TI).
O estudante Carlos Henrique Fernandes Ottes, de 18 anos, também sonha com ser aprovado para estudar TI. Morador de Planaltina de Goiás, a 60 quilômetros do local da prova, ele também saiu de casa com bastante antecedência para não correr riscos. “Na semana passada, cheguei ainda mais cedo. É melhor, mais tranquilo assim.”
Carlos Henrique conversa com Agência Brasil antes do fechamento dos portões. Foto: Jose Cruz/Agência Brasil
“Isso pode atrapalhar um pouco, por causa da distância”, ponderou o jovem, sentado no meio-fio, à espera da abertura dos portões, enquanto nuvens ameaçadoras se formavam no céu. Não sei por que eu estou fazendo a prova aqui. Só vi uma única pessoa que conheço. Os colegas que estudaram comigo e que estão prestando o Enem estão fazendo a prova em Planaltina”, acrescentou Ottes, revelando não ter entrado em contato com o Inep para verificar a possibilidade de transferir, previamente, o local da prova para mais perto de sua casa.
Neste segundo dia de provas, os inscritos testam os conhecimentos em ciências da natureza (química, física e biologia) e matemática. Eles têm cinco horas para responder a 90 questões de múltipla escolha. E só podem deixar definitivamente a sala de aplicação do exame após duas horas do início das provas. Sendo que, para levar o caderno de questões, terão que esperar para ir embora nos 30 minutos finais da prova.
No domingo anterior (3), primeiro dia de prova, os candidatos tiveram que responder a 90 questões objetivas sobre linguagens e ciências humanas, e escrever uma redação sobre os “desafios para a valorização da herança africana no Brasil”.
Victoria Rocha, de 23 anos, está em sua terceira tentativa para conseguir ingressar no curso de medicina. Minutos antes de os portões se abrirem, na Unip Vergueiro, na região centro-sul da capital paulista, onde ela faz o segundo dia de provas do Enem, Victoria relaxava sentada em um ponto de táxi, ouvindo música.
Experiente já nos vestibulares, ela diz que não estava tão nervosa como nos anos anteriores, mas ainda sentia uma certa ansiedade. “Até na terceira vez, a gente fica um pouquinho ansiosa, mas eu acho que é normal. A gente fica ansiosa numa coisa que a gente quer muito. Mas eu tenho a ciência que eu estou muito preparada, fiz bastante coisa durante o ano, e isso traz um conforto para o coração”.
Ela conta que preferiu uma alimentação leve antes de ir até o local da prova, que fica a cerca de 100 metros de sua casa, e deu especial atenção ao sono na noite anterior ao exame. “Fiz uma alimentação leve de manhã para não gerar nenhuma dor de barriga, algum desconforto, durante a tarde. Mas para mim, o sono é o primordial: dormir certinho oito horas durante a noite, nem a mais, nem a menos. Porque se eu durmo muito, fico mole durante a prova”.
Estudante Victória Rocha no segundo dia de provas do Enem na Unip Vergueiro em São Paulo. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Victoria deseja ingressar na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Mas está tentando também o mesmo curso nas universidades federais, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na Universidade Estadual Paulista (Unesp), entre outras. “O Enem é um exame bastante abrangente, que serve para muitas faculdades. Mas dependendo da faculdade que eu passar, se não for das grandes, eu tento mais um ano. Eu vou para faculdade, mas ainda continuo tentando mais um ano”.
Pietro Antenor, de 17 anos, e Mirela Sena, de 18, casal de namorados, estão fazendo, pela primeira vez, “para valer”, a prova do Enem. Ele pretende cursar tecnologia da informação; e ela, medicina. Sentados à frente do prédio da Unip Vergueiro, eles contaram que estudaram juntos parte das matérias. Mirela, que já fez a prova do Enem como “treineira”, passou dicas para Pietro, que nunca fez o exame.
Estudantes Pietro e Mirella no segundo dia de provas do Enem na Unip Vergueiro em São Paulo. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
“Ela me ajudou com algumas questões de matérias para a prova. Como eu não tinha feito o Enem nos outros anos, ela me deu um direcionamento para eu conseguir passar com uma nota de corte melhor nas faculdades que eu quero”, contou Pietro.
Ele pretende ingressar em uma Faculdade de Tecnologia de São Paulo (Fatec) ou na Universidade Mackenzie. Já Mirela, busca entrar em uma federal. Para se acalmar para o dia da prova, ela não quis fazer nada diferente do que no primeiro dia de prova, na semana passada. “Só tentei ficar calma, tomei um banho, preparei minhas coisas e vim”.
* Colaborou Bruno Bocchini, de São Paulo